Este post foi originalmente publicado no blog do Luiz. Eu achei tão interessante, que resolvi postar aqui também. Então lá vai:
Bem-vindos à família, primos!
Uma análise genealógica mostra que todos os seres humanos são universalmente ligados por parentesco. Os genealogistas traçam a árvore genealógica de uma pessoa geralmente seguindo a linhagem direta, ou seja, pais para avós, para bisavós, etc. Este método tenta demonstrar como cada família é única. Mas basta avançar um pouco mais na história para revelar que ninguém— e muito menos um povo— possui uma família única e segregada das demais. Cada família na face do planeta é relacionada a todas as outras.
Para entender isso, acompanhe a tabela abaixo:
# geração| | Anos atrás| | Data|# | ancestrais diretos |
0 | 0 | 2009 | (eu) |
1 | 25 | 1984 | 2 (pais) |
2 | 50 | 1959 | 4 (avós) |
3 | 75 | 1934 | 8 (bisavós) |
4 | 100 | 1909 | 16 (etc.) |
5 | 125 | 1884 | 32 |
6 | 150 | 1859 | 64 |
... | ... | ... | ... |
28 | 700 | 1309 | 268,435,456 |
29 | 725 | 1284 | 536,870,912 |
30 | 750 | 1259 | 1,073,741,824 |
31 | 800 | 1234 | 2,147,483,648 |
32 | 825 | 1209 | 4,294,967,296 |
A tabela indica, para uma pessoa nascida em 2009, o número dos seus antepassados ao longo da História. Cada geração dura em média 25 anos; esta é apenas uma aproximação, mas que, no longo prazo, torna-se razoável. A última linha da tabela, por exemplo, mostra que, por volta de 1200 d.C., mais de 4 bilhões de pessoas deviam estar vivas para gerar a próxima geração dos meus ancestrais.
É óbvio que esta tabela não pode estar correta: não havia 4 bilhões de pessoas vivas em 1200 d.C.— a população da Terra só chegou aos 4 bilhões no século XX. Qual é então a solução deste paradoxo?
A solução é que todos nós somos descendentes das mesmas pessoas e que nós descendemos muitas vezes (quer dizer, através de múltiplas linhas) dos mesmos ancestrais. Famílias casam entre si, primos casam com primas, primos-segundos casam e têm filhos, e assim por diante. Filhos de um casal de primos, por exemplo, têm seis bisavós em comum, ao invés de oito, como indicado na tabela. O mesmo vale para primos-segundos, em relação aos tataravós. Portanto, embora seja certo que nós tínhamos sem dúvida descendentes vivos em 1200 d.C., isso não quer dizer que eles eram 4 bilhões.
Agora, vamos extrapolar essa solução para um grande número de pessoas. Um quadro imprevisto aparece: todos os povos são primos genealógicos. Não é preciso ir muito longe no passado para identificar ancestrais comuns a grandes grupos de pessoas, até mesmo nações, continentes e, eventualmente, toda a população do mundo.
Alguns matemáticos, trabalhando com estes problemas, concluíram que toda pessoa viva com no mínimo um antepassado de origem européia, norte-africana ou do Oriente Médio, por exemplo, é descendente direta de Maomé, o profeta do Islã, e de Carlos Magno, o Imperador dos Francos. Maomé viveu no século VIII e Carlos Magno, no IX. Volte apenas mais alguns séculos e você vai descobrir ancestrais comuns a quaisquer duas pessoas vivas hoje.
Então, todos nós somos descendentes da rainha Nefertiti do Egito Antigo, de Jesus Cristo (se é que ele existiu mesmo, e se é que ele teve filhos, como afirmam alguns), de Júlio César, de Confúcio e de qualquer outro personagem histórico da Antiguidade, de qualquer parte do mundo.
Por isso, qualquer forma de racismo vai por água abaixo com base nessas verdades genéticas e genealógicas. E também vai por água abaixo aquela camiseta comum há algum tempo atrás, 100% Negro. E também 100% Branco, 100% Amarelo e 100% Vermelho. Sem contar que sangue azul, só em caneta.
Meu olho azul é o negro diluído,
Racismo é um rio poluído.
Eu sou branco, orixá me abençoou.
Se me chamar de negro
Vou dizer que também sou.
Eu sou negro, orixá me abençoou.
Se me chamar de branco
Vou dizer que também sou.
Limpa o rio, limpa o mar,
E viva a diferença.
(André Abujamra)
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